Retomada da economia brasileira exige juros baixos
17 de fevereiro 2023
Com a Selic definida pelo BC (Banco Central) em 13,75%, a mais alta taxa básica de juros do mundo, os investimentos em títulos e fundos se tornam mais rentáveis que a produção. Resultado: a economia para, trabalhadores são demitidos e os salários caem. A presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Juvandia Moreira, observa que “nesse cenário, o investimento no mercado financeiro rende 8%, já descontada a inflação, e isso só favorece rentistas, que vivem da especulação sem produzir nada”.
Quando a Selic sobe, todas as possibilidades de investimentos produtivos são afetadas. Como explica o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos), Gustavo Cavarzan, “com essa opção de ganho, quem tem recursos prefere investir no mercado financeiro e ficar com os juros, e não se dedicar a um empreendimento”. Também surgem muitas outras travas para a produção. “O crédito bancário fica mais caro e desestimula consumo e atividade produtiva, o real se valoriza e derruba as exportações, o governo gasta mais com os juros da dívida e os investimentos públicos diminuem. Todos esses fatores enfraquecem a economia, então o desemprego cresce e a renda dos trabalhadores cai”, completa o economista.
Conforme observado em apresentação elaborada pela Rede Bancários do Dieese (A elevação dos juros no Brasil e seus impactos na economia), em função desse quadro de juros altos, os gastos anuais do governo com a dívida pública saltaram da casa dos R$ 300 bilhões no primeiro semestre de 2021 para praticamente o dobro nos últimos meses. O estudo também mostra suas consequências no ritmo de atividade econômica em 2023, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para apenas 0,9%, um terço em relação a 2022; e nos juros bancários, hoje ao redor de assustadores 30%. Enquanto isso, na comparação entre um período de nove meses de 2021 e de 2022, a receita dos cinco maiores bancos pulou de R$ 280 bilhões para R$ 385,7 bilhões (38%), apenas com operações de crédito, e de R$ 80,1 bilhões para R$ 168,8 bilhões (111%), com títulos e valores mobiliários (TVM). Confira a apresentação do Dieese aqui.
Para a sociedade, os impactos negativos são muitos. “Todo esse processo faz com que as riquezas se concentrem ainda mais e a miséria aumente no país”, resume Juvandia, que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. “O Brasil precisa de investimento em atividades que geram emprego e renda, como o micro e pequeno negócio e a agricultura familiar. A economia precisa voltar a funcionar, e essa necessidade é urgente, pois os juros como estão têm um efeito nocivo prolongado, e as taxas elevadas de hoje podem atrapalhar as atividades produtivas pelos próximos anos”, explica.
Juros baixos já!
A categoria bancária se mobilizou, na última terça-feira (14), contra os juros altos determinados pelo Banco Central frente aos prédios da instituição em diversos estados e atos m locais de grande circulação em várias cidade do País.
As manifestações, que também pediram a saída do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foram organizados pelo Comando Nacional dos Bancários, a Contraf-CUT, a CUT, outras Centrais Sindicais e entidades.
A presidenta da Contraf-CUT diz que os protestos foram “um alerta para o Brasil, para exigir mudanças no BC, que ainda é presidido por um bolsonarista”. Segundo Juvandia, “o povo elegeu um novo projeto, de crescimento, desenvolvimento, distribuição de renda e atenção ao povo brasileiro”. Por outro lado, ela lembra que “Campos Neto fez campanha, foi votar de verde-amarelo, participava dos grupos de WhatsApp dos ministros do governo anterior e continua fazendo a política do Paulo Guedes. O tempo dele acabou, tem que pedir para sair”.
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Fonte: Contraf-CUT