Lula reage a ‘mercado nervoso’ com salário mínimo e políticas sociais

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08 de fevereiro 2023

Foto: Ricardo Stuckert Na conversa com jornalistas da mídia alternativa, na manhã da terça-feira (7/02), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar do “mercado” e suas reações. Ele também questionou o recente processo de privatização da Eletrobras, mas afirmou que pelo menos neste momento não pensa em atuar nessa questão. “Eu nunca tive ninguém do mercado elogiando as minhas políticas sociais. Quando eu falo de responsabilidade social, fiscal, estou chamando a responsabilidade do mercado para que eles compreendam que este país não pode continuar passando a fome, que as pessoas não podem ficar sofrendo, dormindo na rua…”, disse Lula. Ao mesmo tempo em que pediu “sensibilidade” aos operadores do sistema financeiro, Lula disse que é preciso construir narrativas que se oponham a esse discurso. “Muitas vezes parece que a gente tem que pedir: goste de mim, me deixe governar, me deixe fazer as coisas pelas quais eu fui eleito”. “Privatizar pra quê?” Na sequência, ele citou justamente o exemplo da Eletrobras para afirmar que passar o controle ao setor privado não é sinônimo de solução de problemas. “Os diretores aumentaram seu salário de 60 mil para 360 mil. E você sabe quanto ganha um conselheiro? Duzentos mil por mês, para ir numa reunião por mês. Privatizar pra quê? E aqui no Brasil estamos vendendo empresa pública para empresa pública espanhola, chinesa…” Lula reafirmou que suas prioridades são acabar com fome, melhorar os serviços de educação e saúde e criar condições para a criação de postos de trabalho. ” Eu não quero que ninguém diga que isso é gasto, isso é investimento. Gasto é quando você vende um gasoduto por 36 bilhões e depois ficando pagando 3 bilhões de aluguel por ano, num gasoduto que era teu. Isso é gasto. É quando você privatiza uma empresa como a Eletrobras e pega dinheiro pra quê? Pra pagar juros da dívida? Vamos ter que fazer tudo que tínhamos feito e eles desmontaram”. Papel do Estado Na sequência desse raciocínio, Lula voltou a falar do mercado financeiro e da importância do papel do Estado. “O mercado ficou nervoso quando o Lehman quebrou?”, questionou, referindo-se à quebra do banco Lehman Brothers em 2008, que causou um terremoto nas economias mundiais. “Agora, você fala em aumentar dois reais o salário mínimo, o mercado fica nervoso? Acho que o mercado precisaria perceber que é muito bom para o mercado quando o povo estiver vivendo dignamente, trabalhando e vivendo às custas do seu suor. Quando tem uma crise econômica em 2008, quem é resolve aqui e nos Estados Unidos? É o Estado”. E acrescentou que no Brasil quem enfrentou a pandemia também foi o Estado, via SUS (Sistema Único de Saúde. Uma das perguntas é sobre o combate ao bolsonarismo, que permanece mesmo com a vitória eleitoral, e sobre o “capital político” do governo. Lula apontou dificuldades do ponto de vista da estrutura, mas lembrou que essa questão não se limita ao governo eleito. “Em 30 dias, tem Ministério que ainda não conseguiu montar toda sua equipe. Vencemos o Bolsonaro numa eleição muito difícil. Vocês nunca pararam para fazer a conta de quantos bilhões do orçamento foram gastos para garantir a reeleição. Essa gente nós temos que combater todo santo dia. Não é um papel do Lula, é um papel de vocês, é um papel nosso”, afirmou Lula sobre combater as mentiras. “O (Joe) Biden ganhou as eleições, mas o trumpismo ainda está lá”, acrescentou, sobre a situação política dos Estados Unidos, para onde ele viajará na próxima sexta-feira (10). Contrato “leonino” O presidente reiterou que sua prioridade é a questão social e descartou mexer na privatização da Eletrobras, mas questionou o processo, que chamou de “leonino”, em prejuízo do governo. “Quase uma bandidagem para que o governo não volte a adquirir maioria. O que eu posso dizer é que foi um processo errático, um processo leonino contra o povo brasileiro, uma operação lesa-pátria”. Ele também se referiu ao que chamou de “desmonte” da Petrobras, que deveria estar exportando derivados em vez de comprá-los. A última pergunta do encontro foi sobre violência política e fake news. “Olha, eu tenho pelo menos 50 anos de vida política. Eu nunca tive conhecimento e nunca tinha participado de uma campanha com tanta virulência na coisa que você chama de rede social, que eu acho que de social não tem nada. Você tem uma rede digital em que a maioria das notícias trabalha pro mal”, disse Lula. Segundo ele, era “humanamente impossível”, enfrentar a rede de mentiras. “Por mais que a gente fizesse, a gente não conseguia disputar com a máquina montada”. Combate às mentiras O presidente disse ter recebido do ministro da Justiça e Segurança Pública um projeto, remetido para a Casa Civil, sobre divulgação de notícias consideradas “impróprias”. Mas ponderou que este não é um tema restrito ao Brasil. “Se a gente quiser discutir a regulação da mídia digital, não pode ser o problema de um país só. Temos que ter consciência que os mentirosos, as pessoas que usam a internet para pregar o mal, a mentira, essa gente não pode ter a facilidade que tem. Não é normal o ser humano conviver com isso. Não é normal, não é democrática. A gente está criando uma espécie de humanidade desumana. Eu acho que é um tema que nós precisamos debater”. Assim, o presidente brasileiro afirmou que pretende levar esse assunto ao presidente dos Estados Unidos e até o G20 e aos Brics. Mas lembrou que não se pode ter medo. Segundo ele, quando uma pessoa xinga e ameaça alguém em lugar público, provavelmente “deve ter processo na Justiça, (é) estelionatário, não pagou a pensão dos filhos”. “Pode ter certeza de que ele é um 171. Porque uma pessoa normal não faz isso”. O presidente lembrou que esteve muitas vezes em Brasília para protestar e subiu em caminhões de som para “xingar alguém”, mas nunca passou por sua cabeça entrar em uma propriedade para destruir. Terminou com nova referência ao 8 de janeiro: “Vamos atrás de um por um para pegar quem financiou essa tentativa de golpe”. Por Vitor Nuzzi/Rede Brasil Atual