Juros precisam baixar pela metade para o país crescer, dizem economistas

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31 de julho 2023

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne nesta terça (1º) e na quarta (2/08) para definir a taxa básica de juros, a Selic, que hoje está em 13,75%. A expectativa do mercado financeiro é que o corte seja de 0,25%; os mais otimistas projetam um corte de meio por cento. Se o corte for mantido nesses patamares mais uma vez o BC estará impedindo a retomada do crescimento econômico do Brasil, segundo os economistas Ladislau Dowbor, professor da PUC (Pontifícia Universidade de São Paulo) e Marcelo Manzano, da Unicamp (Universidade de Campinas). Para Dowbor uma taxa razoável seria de 5% a 6%, menos da metade da atual, o que daria em termos de juros reais 1,5% de lucro, já descontada a inflação, como é praticada em países da Europa e os Estados Unidos. “Os rentistas, que são uma minoria, ganham aqui no Brasil 8,5% de juros sem fazerem nada, sem produzir nada. É um escândalo”, diz Dowbor. O economista Marcelo Manzano concorda que os juros estão muito altos e que um corte maior na Selic seria o ideal, mas ele entende que um juro real de 3% a 5% seria um patamar razoável. “Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne 38 países de economias mais avançadas, trabalham com juros mais baixos, mas, infelizmente, temos uma moeda menos valorizada, e isso obriga o país a trabalhar com um juro maior. Se baixar demais pode ocorrer a fuga de capital estrangeiro, pois seria mais confortável para os investidores manter o dinheiro no exterior. Ainda assim, a atual taxa praticada pelo BC é desproporcional”, afirma Manzano. O economista da Unicamp conta que os mercados são todos interconectados e, por isso é preciso manter uma certa margem de segurança para evitar que qualquer solavanco na economia mundial, como ocorreu em 2008, faça os investidores brasileiros e estrangeiros preferirem comprar títulos em outros países, gerando uma fuga de capitais. “É preciso manter um certo conforto, um certo cuidado, mas não faz sentido algum manter a taxa de juros no Brasil tão alta. Os juros altos sufocam a economia, ninguém investe e ninguém compra”, ressalta o economista. Ele acrescenta que os juros estão subindo nos Estados Unidos, Japão e Europa, mas as economias desses países estão crescendo, pressionando os preços para cima, o que é muito diferente do Brasil onde a inflação está caindo e a economia retraída. “Para quem precisa investir na produção, comprar equipamentos e gerar empregos ao buscar empréstimos fica inviável, e os pequenos comerciantes que precisam de capital de giro e buscam empréstimos mensais pagam juros absurdos”, diz o economista da Unicamp. A justificativa para a atual taxa de juros neste patamar nada tem a ver com o controle da inflação. É, na verdade, esfriar a economia porque ninguém está consumindo. O interesse é o pagamento de títulos da dívida pública com juros altos, com risco zero, avalia o economista Dowbor. “A última vez que o país cresceu efetivamente foi 3% em 2013. No ano passado, houve uma recuperação da economia pós-pandemia, mas recuperação não é crescimento”, diz Dowbor. Segundo ele, o juro médio pago pelas famílias brasileiras está bem acima da Selic, chegando a 55,8% ao ano, enquanto nos países da OCDE fica em 4% a 5%. Para as empresas os juros chegam a 23,1%. “Não há quem aguente esses juros elevados. Uma economia muito parada drena recursos públicos em favor de grupos econômicos que enriquecem por simples transferência de lucro”, diz Dowbor, acrescentando que “os analistas do mercado não levam em conta que o critério de se manter os juros elevados é político e não econômico”. Ele conta que o Brasil tem uma dívida pública de R$ 7,5 trilhões e 82% deste valor vêm de juros sobre juros pagos pelo Brasil. O país não se endividou fazendo obras ou gastando. Os donos de todo esse dinheiro são essencialmente bancos e grupos financeiros como o BlackRock - fundo que Campos Neto disse que poderia gerenciar as reservas nacionais de R$ 380 bilhões. “Manter os juros neste patamar faz com que eles ganhem cada vez. É dinheiro dos nossos impostos, que em vez de financiar educação, saúde e infraestrutura, é apenas lucro líquido para uma minoria”, critica o economista da PUC. Para ele se a taxa for reduzida em apenas 0,25% mostra a força dos grandes bancos, sistemas de fundos que paralisam a economia e vão tirando enquanto podem. “Os rentistas pegam empréstimos no Japão a 2% e investem em títulos do governo brasileiro e saem com um lucro de 8,5%, drenando a riqueza do nosso país. Numa economia sem industrialização e frágil como está a do Brasil no momento, manter a taxa de juros para proteger o país da inflação é uma narrativa sem vergonha”, conclui Dowbor. A posição da CUT sobre a taxa de juros A CUT e demais centrais defendem além de um corte maior na taxa de juros que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, seja demitido do cargo. Após a independência do banco no ano passado, somente o Senado pode tirá-lo da presidência. Para as entidades sindicais Campos Neto deliberadamente prejudica o Brasil ao fazer oposição ao governo Lula, a partir de uma instituição essencial para o crescimento econômico sustentável do país, com geração de emprego e renda. Leia mais: Nota da CUT sobre a manutenção da taxa de juros Por Rosely Rocha/CUT Nacional