G20 aprova a Aliança Global contra a fome e a pobreza
20 de novembro 2024
Foto: Ricardo Stuckert
Resultado de articulação política e diálogo entre as nações, o presidente Lula conseguiu, na manhã de segunda-feira (18/11), na abertura da Cúpula do G20, firmar um compromisso, em escala global, para combater a fome no mundo. A Aliança Global contra a Fome a Pobreza terá como objetivo intensificar os esforços para erradicar essas desigualdades, alinhando-se aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), a chamada Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Aqueles que sempre foram invisíveis estarão ao centro da agenda internacional”, disse Lula.
A proposta contou com a adesão de 82 países, da União Africana e a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais. A adesão, iniciada em julho, permanece aberta e é formalizada por meio de uma declaração que define compromissos específicos adaptados às condições e prioridades de cada signatário.
Entre as ações planejadas, destacam-se os "Sprints 2030", programas de grande escala que visam beneficiar 500 milhões de pessoas com transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda, ampliar refeições escolares de qualidade para 150 milhões de crianças em regiões com fome endêmica e mobilizar bilhões de dólares em créditos e doações de bancos multilaterais para implementar essas políticas.
“São 733 milhões de pessoas que vão dormir toda noite sem ter o que comer. O mundo gastou, no último ano, 2 trilhões, 400 bilhões de dólares em armamentos nas guerras e gastou quase nada para dar comida às pessoas que precisam de café da manhã, almoço e jantar todos os dias”, apontou o presidente Lula durante o G20 Social.
Portal da Aliança já está no ar
O portal é dedicado a levar informações técnicas, detalhadas e atualizadas sobre a Aliança Global, atuando como um facilitador para quem tem interesse em fazer parte dessa união de esforços. O site conta com versões em português e inglês onde é possível acessar a agenda de eventos, notícias recentes e instruções para participar, bem como documentos fundamentais da Aliança, como a Declaração de Compromisso.
Também está disponível a Cestas de Políticas, um instrumento da Aliança Global, que fornece um menu de programas e instrumentos políticos, rigorosamente avaliados, que podem ser adaptados a contextos nacionais ou subnacionais específicos.
Aliança Global
Ao longo do ano, diversas reuniões foram realizadas para debater a construção da Aliança Global que busca acelerar o progresso em direção aos ODS de erradicação da fome e da pobreza.
A abordagem da Aliança concentra-se no apoio a programas liderados pelos países e baseados em evidências, por meio do fortalecimento da cooperação internacional e da troca de conhecimentos. Ela está aberta a todos os países e organizações qualificadas que queiram participar.
A Aliança terá uma estrutura de governança independente, mas conectada ao G20, permitindo a inclusão de países fora do bloco. A administração será conduzida por um Conselho de Campeões e um Mecanismo de Apoio, com operação plena prevista para 2025. Até lá, o Brasil fornecerá suporte provisório às funções essenciais.
Países que apoiaram a Aliança Global:
Alemanha, Angola, Antígua e Barbuda, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Austrália, Bangladesh, Benin, Bolívia, Brasil, Burkina, Faso, Burundi, Camboja, Chade, Canadá, Chile, China, Chipre, Colômbia, Dinamarca, Egito, Emirados Árabes Unidos, Eslováquia, Estados Unidos, Espanha, Etiópia, Federação Russa, Filipinas, Finlândia, França, Guatemala, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Haiti, Honduras, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Jordânia, Líbano, Libéria, Malta, Malásia, Mauritânia, México, Moçambique, Birmânia, Nigéria, Noruega, Países Baixos, Palestina, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Quênia, Reino Unido, República da Coreia, República Dominicana, Ruanda, São Tomé e Príncipe, São Vicente e Granadinas, Serra Leoa, Singapura, Somália, Sudão, Suíça, Tadjiquistão, Tanzânia, Timor-Leste, Togo, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Vietnã, Zâmbia.
Oposição também adere à Aliança
Javier Milei, presidente de extrema-direita da Argentina, conhecido como El Loco em seu país, posicionou-se como principal obstáculo nas negociações do documento final do G20. Desde as primeiras reuniões técnicas, realizadas no dia 12, o representante argentino apresentou objeções a pontos centrais, incluindo igualdade de gênero, empoderamento feminino e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A oposição chegou à Agenda 2030 da ONU, que prevê 17 metas globais para sustentabilidade, erradicação da pobreza e proteção ambiental, bem como às propostas de taxação dos super-ricos — uma das principais bandeiras do ministro da fazenda Fernando Haddad.
Após incansáveis negociações, a Argentina cedeu e aderiu à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta considerada por Lula como um legado brasileiro para o G20 e que, segundo comentaristas políticos, mostra uma vitória expressiva do Brasil no cenário internacional.
Contexto da cúpula do G20
O G20 oficial iniciou na segunda-feira (18) após o sucesso do G20 Social, realizado entre os dias 14 e 17 de novembro. Na ocasião, a CUT, movimentos sociais e populares entregaram um documento com deliberações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o levou à mesa de discussões com líderes globais. O objetivo do G20 Social foi de ampliar a participação de atores não-governamentais nas atividades e nos processos decisórios do G20, que teve por lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”.
Durante dois dias, chefes de Estado e Governo das maiores economias do mundo se reuniram para debater soluções para os principais desafios globais.
O encontro, que terminou na terça-feira (19), também marcou a passagem simbólica da presidência do grupo para a África do Sul, em um movimento que evidencia o protagonismo crescente do continente africano nas negociações internacionais.
Os debates do G20 seguiram três eixos principais: desenvolvimento sustentável, reforma da governança global e combate à fome e pobreza. Esses temas, considerados urgentes pelos líderes mundiais, são centrais para a cúpula e refletem a relevância de iniciativas para a formação de um mundo mais justo e igual.
Por Luiz Cabral, com edição de André Accarini /CUT Nacional