Compromisso socioambiental dos bancos não passa do discurso

Capa da Notícia

13 de setembro 2023

Reunião online do Coletivo Nacional de Formação da Contraf-CUT, em 5 de setembro de 2023 O secretário de Formação da Fetec-CUT/PR (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná), Pablo Diaz, em apresentação na última reunião do Coletivo Nacional de Formação da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), ocorrida dia 5 de setembro, desenvolveu análise do Febraban Tech, em que mostra que o discurso do setor financeiro, de compromisso ambiental e social, não coincide com suas ações. A apresentação faz parte do debate do eixo conjuntural da reunião do Coletivo, que também destacou outros temas, como o cadastramento de educadores para a rede nacional de formadores da Contraf-CUT, a abertura de três novas turmas para o curso de análise de conjuntura, a definição das datas das quatro novas turmas do curso para novos dirigentes (a primeira será dias 15 e 16 de setembro para a base da Fetraf-RJ/ES), a continuidade da construção da Política de Formação Sindical da Contraf-CUT e o lançamento do Clube do Livro pelo Sindicato do Bancários de Londrina – uma iniciativa surgida a partir de debates anteriores do próprio Coletivo de Formação sobre a criação de grupos de estudos nas entidades sindicais. O Febraban Tech é um megaevento anual de tecnologia e inovação do setor financeiro, considerado o maior do gênero da América Latina, que reúne lideranças dos setores financeiro, de tecnologia e de áreas ligadas à inovação, promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Na edição deste ano, realizada em junho passado, a Febraban afirmou enfaticamente que a agenda ESG, sigla em inglês para “Environmental, Social and Governance” (Ambiental, Social e Governança, em tradução literal) é uma marca dos bancos, como representação do compromisso do setor com a transição para a economia verde e para a monetização dos ativos ambientais, com responsabilidade climática. A entidade também se autodeclarou como o grande pilar de sustentação social, em especial pelo protagonismo em sua atuação na chamada economia digital. Para Pablo, porém, “o que vemos na prática interna é a contradição do aumento da exploração dos trabalhadores por metas nunca satisfatórias, sempre requerendo mais quando o tema é ‘acionistas’. A tecnologia, portanto, ao contrário de libertar, tem sido usada para acorrentar o trabalhador a um ritmo de trabalho virtual que aos poucos extingue a fronteira entre a jornada de trabalho e a vida privada”. A análise de Pablo, que também é mestre em Tecnologia e Trabalho pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e coordenador regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no  Paraná, buscou, em linhas gerais em suas palavras, “a captura ideológica e instrumental do capital financeirizado da agenda da esquerda, omitindo a lógica de acumulação”. Para o secretário da Fetec-CUT/PR, “a novilíngua corporativa é uma peça de propaganda que parece inclusiva, mas, na verdade, exclui o trabalhador da sua própria existência e personalidade, impondo um ritmo existencial cujo polo é unicamente a meta”. Ele usou como referência Brett King, cofundador do Moven, um dos primeiros bancos virtuais do mundo, e autor dos livros de Banco 2.0 e Banco 3.0. Conforme dados do australiano citados por Pablo, “80% dos bancarizados no Quênia são clientes pelo celular, eles não conhecem agências”. Outro exemplo de descaso dos bancos com a sociedade é confirmado pela presença “das cooperativas de crédito, que têm crescido exatamente neste momento em que os bancos acentuam seu movimento pela redução de agências bancárias, porque o atendimento físico é necessário”, complementou Pablo. Por isso, como pontuou o palestrante, “King, que já assessorou a Febraban, mas sempre alertou sobre esses riscos, fala de um ‘tecnossocialismo’, porque a tecnologia sobre o capital é excludente e pode causar revoluções. King também cita como melhor exemplo a China, porque o país faz avanços e recuos à medida que isso afeta o equilíbrio social”. O secretário de Formação da Contraf-CUT, Rafael Zanon, avaliou que “a participação de Pablo Diaz, foi destacada, pois trouxe uma análise abrangente do discurso corporativo do setor bancário, que em vez de assumir e honrar compromissos, é usado tanto para a exploração de seus trabalhadores, quanto para justificar o fato de não cumprir suas responsabilidades sociais”. Para Zanon, “debates com essa qualidade, sobre particularidades do setor financeiro, são importantes para a formação global dos dirigentes sindicais”. Confira aqui a apresentação completa de Pablo Diaz. Fonte: Contraf-CUT