Caixa é utilizada como arma política do governo
26 de outubro 2022
Desde que o atual governo começou, a gestão mostra repetidamente que enxerga a Caixa Econômica Federal como ferramenta política. Os exemplos mais recentes foram a antecipação do pagamento do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás, a dias do segundo turno das eleições, e o lançamento do programa “Você no Azul”, depois de afirmar que não incluiria propostas para endividados na campanha. O que vemos agora, porém, é apenas a ponta do iceberg: desde o início de 2019, a gestão deixa de lado a principal premissa do banco público – que é apoiar políticas públicas – e usa a Caixa para fins eleitorais.
A partir desta semana, a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e a Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal) publicarão uma série de reportagens mostrando o progressivo desmonte da Caixa nos últimos anos e o perigo do atual governo para o futuro do banco público e seus empregados. A privatização de partes importantes da estatal, o enfraquecimento de programas históricos e a deterioração das condições de trabalho serão alguns dos temas abordados.
Subsidiárias na mira do governo
A agenda privatista do atual governo foi uma das principais propostas de campanha nas eleições de 2018. A Caixa não ficou fora da lista e sofreu consideráveis perdas desde o início da gestão, com a venda de subsidiárias relevantes para o bom desempenho da empresa.
A venda do Banco Pan e da Caixa Seguridade, a criação da DTVM Caixa – com o objetivo de privatizar ativos – foram algumas das investidas do governo para avançar no fatiamento da estatal. Se os planos de privatizar também a Caixa Loterias e outros setores se concretizarem caso o presidente for reeleito, a Caixa pode perder lucro de R$ 29 bilhões nos próximos 10 anos.
“Vale lembrar que as subsidiárias foram criadas para modernizar as operações da Caixa e expandir serviços”, explicou o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “Com isso, foi possível aumentar a lucratividade e eficiência da empresa, alcançando os resultados financeiros necessários para cumprir com o papel de banco público: promover programas sociais para promover o desenvolvimento e reduzir desigualdades”, completou.
A venda de subsidiárias, por outro lado, tem como consequência a perda de receita recorrente, o que prejudica as políticas públicas implementadas. “Além disso, a Caixa fica cada vez mais desvalorizada, já que sobram apenas as partes pouco rentáveis – dando margem para o governo plantear uma eventual privatização total”, acrescentou o presidente da Fenae.
Sem subsidiárias, sem lucro
Os números mostram como o governo privatizou algumas das partes mais rentáveis da Caixa e ainda pretende vender outras partes lucrativas. A Caixa Seguridade, por exemplo, teve um aumento líquido de 5% em 2020, em plena recessão. Mesmo assim, 17% da empresa foi vendida no ano passado.
Também em 2021, o governo criou a DTVM Caixa com o objetivo de facilitar a venda de ativos da Caixa Asset. Para se ter uma ideia, a Caixa Asset administrava R$ 438 bilhões no fim do ano passado, sendo a quarta maior gestora de recursos do Brasil, com mais de 1,9 milhão de clientes. Além disso, obteve a segunda maior captação líquida em 2021, com R$ 42 bilhões nos fundos de investimento sob sua gestão.
Outra subsidiária que o Executivo pretende vender é a Caixa Loterias, que tem lucro de cerca de R$ 1 bilhão por ano, com cerca de 40% investidos em políticas públicas. Se entregue à iniciativa privada, a porcentagem dos repasses cairá para 16%, prejudicando investimentos em educação, cultura, esporte, e outras áreas sociais.
Finalmente, o governo também considera privatizar a Caixa Cartões, segmento estratégico para o banco. Em 2020, as receitas oriundas de operações com cartões totalizaram aproximadamente R$ 2,8 bilhões.
“A atual gestão usa os dados da Caixa constantemente para tentar ganhar votos, mas desde o início da gestão não faz mais do que enfraquecer o banco passo a passo”, pontuou Takemoto. “O progressivo fatiamento visa desvalorizar a estatal aos poucos, até o banco ser vendido no fim por um valor baixo. O maior prejuízo é para a própria população, que perderá dezenas de programas sociais históricos”, concluiu.
Fonte: Fenae, com edições da Contraf-CUT