BC anuncia Selic a 10,50%, mas mantém carga pesada de juros sobre governo e população
09 de maio 2024
Passou de 10,75%
para 10,50% a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). A decisão do
Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central (BC), anunciada na
quarta-feira (8/05), de reduzir em apenas 0,25 ponto percentual (p.p.) o
índice, confirma a mudança no ritmo de cortes que a entidade monetária
implementou desde agosto de 2023, após grande pressão do movimento sindical,
setores produtivos e do governo Federal.
“Como nós sempre
denunciamos, os juros extorsivos praticados pelo Banco Central impactam no
desenvolvimento do país, sob o argumento de que é preciso controlar a inflação.
Mas a inflação segue sob controle, inclusive segue em queda, ainda que lenta”,
destacou a presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores
do Ramo Financeiro) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, se referindo ao
IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Outro impacto da Selic é sobre os títulos públicos emitidos pelo Tesouro
Nacional, por ser o principal índice usado nessas negociações. “Portanto, o
governo brasileiro acaba gastando muito mais com o pagamento dos juros dos
títulos, recurso que poderia ser direcionado para importantes áreas, como
saúde, educação e, agora, defesa civil, diante do aumento de tragédias
ambientais, como estamos sofrendo mais notadamente no Rio Grande do Sul”,
complementou o secretário de Assuntos Econômicos da Contraf-CUT, Walcir
Previtale.
Mudança de posição do BC
Até cerca de duas
semanas atrás, a indicação feita pela entidade no relatório da última reunião do Copom, de maio, era de que
manteria o ritmo de cortes em 0,50 p.p., neste e nos próximos encontros, o que
significa que o Brasil poderia chegar com uma Selic de 8,5% no final do ano.
Porém, a partir de
meados de abril, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, começou a indicar que iniciaria um
movimento diferente, que poderia ser a redução no ritmo
de cortes, manutenção ou até aumento da Selic.
As justificativas
apontadas por ele foram de que o processo desinflacionário e da economia estão
em ritmo de desaceleração, e, ainda, com o mercado de trabalho “aquecido”. Este
último ponto, na visão do mandatário do BC, seria um problema, pois elevaria o
consumo e a inflação.
“Quando Campos Neto alega que essa queda no ritmo de redução da Selic se dá por
causa do aumento do emprego, acaba entrando em contradição, porque vai
justamente na contramão das missões do BC, que é colaborar com aumento do nível
de emprego”, lembrou Juvandia Moreira.
Leia também: Contraf-CUT cobra do Banco Central metas de pleno emprego
O economista do
Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos),
Gustavo Cavarzan, explicou, por outro lado, que “o problema é que essa visão de
Campos Neto ignora que a inflação recente da economia brasileira está muito
mais vinculada a fatores externos, como a política de preços de combustíveis e
conflitos geopolíticos globais do que a um suposto aquecimento da demanda
interna do país”.
Outro argumento apontado pelo presidente do BC, para a mudança no ciclo de
cortes, foi a alteração dos planos do Fed (Federal Reserve), banco central
norte-americano, em reduzir a taxa básica de juros naquele país.
No início do ano, havia essa possibilidade. Mas, agora, o órgão de política
monetária estadunidense fala em iniciar o ciclo de cortes nas reuniões de
setembro, dezembro ou somente em 2025. Como os Estados Unidos têm economia mais
forte do que o Brasil, a manutenção da taxa de juros básica por lá, que hoje
está entre 5,25% a 5,5%, acaba sendo mais atraente para a maioria dos
investidores, ainda que o Brasil tenha uma das maiores taxas do mundo.
Em outras palavras,
quanto maior a diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos, mais atraente
o investimento aqui. Da mesma forma, quanto menor o diferencial, menos
atraente.
“Porém, a decisão do Copom desta quarta-feira ignora que a perspectiva de
inflação no Brasil segue sob controle – o último boletim Focus indica
expectativa de 3,72% para o IPCA em 2024 – e que a economia brasileira precisa
de juros baixos para que o setor produtivo possa investir, gerando emprego e
renda para a população”, observou Cavarzan.
O economista
completou que a última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua,
divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), “mostrou
uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa de desemprego no último trimestre,
o que significa um aumento de 542 mil pessoas em busca de trabalho. Reduzir o
ritmo de queda dos juros, nesse contexto, irá apenas engessar a atividade
econômica brasileira, num momento em que a necessidade de intervenção e
coordenação do setor público é urgente, ainda mais diante das tragédias
ambientais no Rio Grande do Sul. Mais uma vez o BC joga contra o país”,
finalizou o economista.
Entenda
– O Copom, entidade
do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de
juros do país, chamada Selic. Neste último encontro, realizado entre 7 e 8 de
maio, a entidade anunciou redução da taxa básica de juros da economia
brasileira (Selic) de 10,75% para 10,50%.
– Com essa decisão, a entidade mudou o ritmo de queda de 0,50 p.p., iniciada em
agosto de 2023, quando a Selic estava em 13,75%, patamar em que a taxa básica
foi mantida durante um ano, ou seja, desde agosto de 2022.
– A Selic mais alta
aumenta o custo de vida do trabalhador, os empréstimos para pessoa física e
empresas e a dívida do Estado.
– Os principais
beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida
pública. Atualmente, as instituições financeiras são as maiores detentoras de
títulos federais.
– Diante do quadro,
movimentos sociais, incluindo o movimento sindical, realizam, há mais de um
ano, manifestações e campanhas com a hashtag #JurosBaixosJá.
– No comunicado da
última reunião, realizada entre 19 e 20 de março, quando a Selic foi reduzida
de 11,25% para 10,75%, o Copom indicou que continuaria com a tendência de
corte. Mas isso mudou, a partir de meados de abril, quando o presidente da
entidade, Campos Neto, passou a indicar alteração da política monetária.
– Os argumentos
utilizados pelo Copom para manter a Selic elevada é o risco de elevação de
juros no país, por conta do aquecimento econômico. Entretanto, o país segue
registrando índices de preços sob controle e abaixo da meta estipulada pelo
próprio Banco Central.
– Economistas de
tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável
deveria, pelo menos, estar no patamar de um dígito, para que o Brasil deixe de
ter uma das maiores taxas de juro real (que é o resultado da Selic menos a
inflação) do mundo.
Fonte: Contraf-CUT