Bancárias avaliam resultados da mesa de Igualdade de Oportunidades e cobram avanços na paridade salarial

01 de abril 2025
O Comando Nacional dos Bancários se reuniu com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), nesta segunda-feira (31/03), em São Paulo, para tratar da pauta da mesa de Igualdade de Oportunidades.
Entre os pontos abordados no encontrou, marcado para concluir as atividades do Mês da Mulher, estavam as ações dos bancos para reduzir a desigualdade salarial e de ascensão entre homens e mulheres; programa “Mais Mulheres na TI” (resultado da negociação do ano passado) e dados de atendimento dos canais de combate à violência de gênero.
“A reunião foi importante para avaliar o resultado do que conquistamos em negociamos no ano passado: muitas mulheres foram beneficiadas pelos canais de atendimento contra violência – 1.106, considerando os canais dos bancos e do movimento sindical. Em relação à formação de mulheres na TI, temos mais de 1.000 inscritas, isto na primeira fase das bolsas de estudo. E estamos recolocando o debate de igualdade salarial, de oportunidade e acessão profissional nos bancos”, destacou Juvandia Moreira, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).
Igualdade salarial
Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a partir de dados oficiais, nos bancos as mulheres recebem, em média, 19% menos que os colegas homens. No recorte racial, o cenário é ainda pior: as bancárias negras tem remuneração 34,5% inferior à remuneração média do bancário branco do sexo masculino.
A categoria conquistou, na última renovação da CCT (Convenção Coletiva de Trabalho), o compromisso dos bancos de alcançar a paridade de remuneração entre homens e mulheres. A proposta é que as empresas acelerem o cumprimento da Lei de Igualdade Salarial, em vigência no país desde 2023.
Com base em dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) dos últimos 10 anos, o Dieese estima que a categoria bancária poderá alcançar a paridade salarial em 46 anos.
"Por isso que a Lei de Igualdade Salarial é fundamental, porque o que acontece em nossa categoria é um reflexo da sociedade e o que enfrentamos em todo o mercado de trabalho. Mas para que o seu cumprimento seja efetivo, existem medidas que nós defendemos, como a forma em que os dados são divulgados e organizados pelos bancos”, explicou Juvandia Moreira.
A título de comparação, o Fórum Econômico Mundial aponta que a equidade salarial de gênero levará 131 anos para ser atingida, na realidade global.
A Lei brasileira de igualdade salarial entre homens e mulheres prevê que estabelecimentos com mais de 100 funcionários devem enviar, periodicamente, ao Ministério do Trabalho e Emprego, informações para o relatório anual de transparência. “Exigimos que os bancos divulguem os dados por empresa e não somente por estabelecimento (CNPJ), isso porque cada banco tem várias CNPJs, e o envio por CNPJ vem dificultando o entendimento do cenário real para a melhor efetividade do planejamento de ações rumo à igualdade de remuneração entre gêneros”, explicou Juvandia.
"Apesar de o quadro da categoria bancária estar muito aquém da igualdade que defendemos, é por conta dos 23 anos da mesa de Igualdade de Oportunidades que avançamos. Mas precisamos seguir com ações concretas e afirmativas”, refletiu a também coordenadora do Comando Nacional, Neiva Ribeiro.
Ficou negociada a realização de um novo encontro, em abril, com as áreas de RH (Recursos Humanos) dos bancos, não só dos que já participam comissão de negociação. Neste encontro, o Comando Nacional irá apresentar a diferença salarial e de oportunidades e as propostas para alcançar equidade.
Desigualdade é maior nos altos cargos
As bancárias também destacaram o avanço da desigualdade salarial de gênero quanto maiores são os cargos. Enquanto que, numa função da base, como de escriturários, as mulheres recebem, em média, 96% da remuneração dos homens, nos cargos de dirigentes e gerentes elas recebem 68,9% da remuneração dos colegas homens.
"Já é difícil que mulheres alcancem espaços de liderança e, quando chegam lá, simplesmente recebem menos por uma questão de gênero, simplesmente, porque a função delas é exatamente a mesma dos homens", destacou a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
Mulheres são maioria entre desligados
O Comando Nacional cobrou não só a igualdade salarial de gênero, mas a reversão de queda de mulheres no setor.
"Entre 2020 e 2024, o saldo de emprego na categoria bancária foi negativo em 17.066 postos de trabalho", alertou Juvandia Moreira. "Nesse período, as admissões foram maiores para homens e os desligamentos muito superiores para as mulheres, fazendo com que o saldo negativo de empregos para os homens ficasse em 730 postos e o das mulheres negativo em 16.336 postos. "Ou seja, mais de 95,7% dos postos de trabalho fechados nos bancos foram os que eram ocupados por mulheres", completou.
A redução de mulheres também ocorre na área que mais cresce em contratação nos bancos, o da Tecnologia da Informação (TI), onde a representação de mulheres caiu de 31,9% para 25,2%, entre os anos de 2012 e 2023.
"Sem ações afirmativas, com o estabelecimento de prioridades, melhorias e incentivos, não vamos alcançar a correta inclusão e, com isso, a paridade de gênero", pontuou Juvandia Moreira. "Foi por isso que negociamos a inclusão de cláusulas, na CCT, para formação de mulheres na tecnologia", observou.
Mais mulheres na TI
Representantes das escolas PrograMaria e Laboratória trouxeram dados da primeira fase do programa “Mais Mulheres na TI”, conquistado pela categoria na última renovação da CCT.
O programa prevê um total de 3.100 bolsas para a capacitação de meninas e mulheres.
“Desse total, 1.000 já foram selecionadas pela PrograMaria e 118 pela Laboratória. Essa iniciativa é o resultado efetivo de reivindicações da nossa categoria e estamos muito felizes por esses cursos, em andamento”, destacou Fernada Lopes. “As beneficiadas são mulheres negras, mães, empreendedoras, que estão buscando suas carreiras”, completou a secretária da Mulher da Contraf-CUT.
Uma segunda fase de inscrições será aberta, ainda neste semestre, e divulgadas pelo movimento sindical.
“A procura foi muito alta, mostrando que existe uma demanda reprimida entre as mulheres que querem, sim, aprender e atuar na área da tecnologia”, pontuou Fernanda Lopes. “Segundo a PrograMaria, as inscrições superaram em 295% a expectativa de buscas pelas bolsas”, completou.
Canais de combate à violência doméstica
Por fim, a pedido do movimento sindical, os bancos apresentaram dados sobre outra conquista da categoria na CCT: a oferta de canais de combate à violência doméstica.
Segundo a Fenaban, 84% dos bancos já disponibilizam canais de denúncia e acolhimento e outros 11% afirmaram que irão implementá-los em 2025.
“Vamos seguir acompanhando para que esses canais funcionem efetivamente. É importante que as bancárias saibam da existência deles e como buscar essa ajuda. É uma conquista que salva vidas e que, em conjunto com os canais de atendimento dos sindicatos, que é o 'Basta! Não irão nos calar!', já atendeu 1.161 vítimas”, ressaltou Fernanda Lopes.
O Comando Nacional também apresentou dados do programa “Basta!”, promovido exclusivamente pelo movimento sindical: desde 2021 foram 14 canais criados em todas as regiões do país e 504 atendimentos.
"Quando negociamos a criação desses canais, em 2020, não fazíamos ideia de que tantas mulheres sofriam com a violência doméstica e sem saber a quem recorrer. Agora, bancos e sindicatos oferecem esses canais de acolhimento e assessoria jurídica", destacou Juvandia Moreira. "Este fato comprova como foi importante os sindicatos terem colocado este tema em pauta na CCT e isso porque muitas bancárias perdiam empregos em decorrência da violência domestica. Agora, com ajuda dos sindicatos e dos bancos, elas podem romper esse ciclo de violência e de prejuízos", pontuou Juvandia Moreira.
Fonte: Contraf-CUT