A educação é uma ferramenta poderosa para combater o racismo, diz dirigente da CUT
04 de novembro 2024
Arte: Edson Rimonatto/CUT
É no dia 20 de novembro que se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra e para marcar a data a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, fala da agenda de todo o mês dedicado ao combate ao racismo e sobre o papel do Estado e do movimento sindical sobre o tema.
Para a dirigente “a educação é uma das principais ferramentas contra a discriminação racial e em favor da inclusão pessoal, cultural e social da população negra”. Segundo ela, a educação é o pilar para mudar a mentalidade, sensibilizar e mudar a cultura patriarcal, racista e capitalista imposta pela sociedade do país.
Outro eixo importante é a saúde, que por conta do racismo, a população negra tem uma desvantagem em obter direitos básicos, dificultando um tratamento adequado e acesso a medicamentos.
Júlia também faz um balanço das lutas antirracista no Brasil e da participação da Central na Marcha das Mulheres Negras e da 5ª Conapir (Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial), em 2025.
Confira a entrevista
Qual é a estratégia de luta ou ação que você acredita ser mais efetiva contra o racismo no Brasil?
Júlia Nogueira: Penso que, para combater efetivamente o racismo no Brasil, ele passa fundamentalmente pela educação. A Lei 10.639, sancionada pelo presidente Lula em 2003, é uma ferramenta poderosa para combater o racismo, considerando que essa Lei alterou as bases curriculares da educação, inserindo no currículo a história da África e dos afrodescendentes. Isso vai fazer com que nossas crianças, adolescentes e jovens entendam que a cor da pele não pode ser motivo para discriminar alguém.
Como a CUT e o movimento sindical têm atuado na luta antirracista no país?
Júlia Nogueira: O movimento sindical CUTista tem buscado ter uma atuação, em parceria com o movimento negro do país, de trabalhar de forma articulada para combater o racismo. Isso é fundamental porque as lutas são essenciais para combater esse racismo. Nós, na CUT, já levantamos e precisamos fazer uma atualização de quais Sindicatos já possuem qualquer tipo de cláusula que busque fazer o enfrentamento ao racismo, evitando que trabalhadoras e trabalhadoras sejam discriminados em razão da cor da pele.
Por que lutar contra a morte de jovens negros é uma estratégia de luta para a comunidade negra?
Júlia Nogueira: O racismo tem várias faces, e uma delas é a abordagem policial que, infelizmente, ocorre muito no país, onde pessoas pretas são abordadas de forma violenta, e são posteriormente encarceradas. Isso tira das ruas, da luta os jovens negros e negras. Então precisamos ter de assumir a campanha Juventude Negra Viva, porque lugar de jovem negro é na escola, é no trabalho e não nas prisões.
Júlia Nogueira é secretária de Combate ao Racismo da CUT
Este ano o feriado de 20 de novembro será nacional, depois de várias lutas históricas e reivindicações do movimento negro. Por que é importante um feriado nacional para falar deste tema?
Júlia Nogueira: O feriado nacional de 20 de novembro é uma reivindicação histórica do movimento negro. Vale destacar o Dia Nacional da Consciência Negra, que homenageia um dos maiores heróis negros desse país, que é Zumbi dos Palmares, que consolidou a sua história e a sua luta no Quilombo dos Palmares.
Em novembro de 2025 teremos mais uma edição da Marcha das Mulheres Negras. Quais serão as bandeiras de luta e como a CUT se prepara para a marcha?
Júlia Nogueira: Nos próximos dias 21 e 22 de novembro deste ano a CUT estará reunindo seu coletivo nacional, com representação dos estados e dos ramos, onde iremos discutir e planejar as ações da CUT para sua participação e intervenção na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras, que ocorrerá em novembro de 2025 em Brasília.
Em julho do ano que vem teremos a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, como a CUT se prepara para essa Conferência?
Júlia Nogueira: Nessa mesma reunião do coletivo, dos dias 21 e 22, iremos de forma coletiva pensar quais as ações que a CUT vai propor durante a 5ª Conapir, que trata democracia e reparação racial como o eixo principal dessa Conferência. Então é fundamental também que nesta reunião do coletivo nós possamos pensar e estabelecer as ações prioritárias, evidentemente que vinculadas ao mundo do trabalho que a CUT vai propor na Conferência.
Feriado Nacional em 20 de novembro
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é um feriado nacional. O presidente Lula (PT) sancionou no fim de 2023 o Projeto de Lei que tornou o dia 20 de novembro um feriado em todo território nacional.
Antes, nesta data era feriado apenas em seis estados: Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo.
Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff (PT) oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Por Walber Pinto, com edição de Rosely Rocha/CUT Nacional