13 de maio, mais do que uma data para marcar abolição da escravatura
13 de maio 2024
O 13 de maio não é
apenas a data para marcar a abolição da escravatura no Brasil, país que tem na
história a triste marca de ter sido o último a deixar de praticar o crime de
tráfico humano institucionalizado. A data também marca que a luta contra o racismo
não terminou, porque a discriminação de negros e negras é estrutural e com
reflexos, até hoje, nas áreas econômicas e sociais do país.
A avaliação é do
secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores
do Ramo Financeiro), Almir Aguiar. “O 13 de maio não versa apenas sobre o dia
da alforria dos negros brasileiros escravizados, no contexto da formação das
reservas de mercado do capitalismo moderno, é também o Dia Nacional de
Denúncia contra o Racismo, pois ainda convivemos com desigualdade no
mercado de trabalho, apagamento da participação de negros e negras em processos
históricos importantes, além da marginalização e violência contra a nossa
população”, explica.
No mercado de trabalho e na vida
Ele lembra que,
apesar de serem 56,1% da população em idade de trabalhar, em 2023, os negros
correspondiam a mais da metade dos desocupados (65,1%), segundo estudo feito
pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos), com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“A taxa de desocupação dos negros era, na ocasião, de 9,5%, sendo 3,2 pontos
percentuais acima da taxa dos não negros. No caso das mulheres negras, que
acumulam as desigualdades de raça e de gênero, a taxa estava em 11,7%. O Dieese
apontou ainda que a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho é ainda
mais difícil do que a de homens negros”, completa.
Outro dado triste
destacado pelo dirigente é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Segundo a
entidade, o Brasil registrou mais de 6.420 mortes por agentes da polícia em
2022, o que equivale a 17 por dia, período em que o recrudescimento do aparato
militar e da violência policial contra comunidades pobres virou uma política de
Estado, mas cujas práticas permanecem crescendo no país”, ressaltou,
completando que as maiores vítimas são os jovens negros. “Mais de 83% das
pessoas que morreram em intervenções militares naquele período eram negras e
45% tinham entre 18 e 24 anos. Este extermínio de negros pobres ocorre hoje de maneira
inaceitável, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia”, pontuou.
Apagamento histórico
Almir avalia que o
13 de maio tem estreita relação com outra data próxima importante: o 1º de
maio, Dia do Trabalhador. “Nesta data ainda pouco se fala na relevância de
negros e negras para a construção do Brasil, até os nossos dias, não apenas no
trabalho operário nas áreas urbanas e dos trabalhadores rurais no campo, como
em funções intelectuais acadêmicas, nos campos da história e da arquitetura,
por exemplo”, declarou.
Nesse sentido, o
secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT aproveitou para lembrar de três
importantes nomes. O primeiro é o de Joaquim Pinto de Oliveira. “Nasceu
escravizado, mas conseguiu sua alforria por meio de seu trabalho arquitetônico.
É praticamente desconhecido e simplesmente ocultado das bancas escolares. Uma
de suas mais importantes realizações de Temas, como ficou conhecido, foi a
construção da torre e restauração da fachada da Matriz da Sé, em São Paulo”.
Almir também destaca
a importância da população negra na luta de classes, trazendo o nome de “João
Cândido, o Almirante Negro, que liderou a Revolta da Chibata, em 1910,
movimento de marinheiros em oposição aos castigos e maus tratos impostos pela
Marinha Brasileira aos trabalhadores subalternos e de baixa patente militar”.
Em relação às lutas
trabalhistas, também se destacam os movimentos grevistas liderados por negros e
negras, sendo o principal deles o de 1º de junho de 1857, na Bahia, quando
houve a “primeira mobilização de greve geral de um setor importante da economia
urbana daquele período, o dos carregadores de produtos e todo o tipo de carga,
conforme relata o historiador baiano João José Reis, em seu livro ‘Ganhadores:
a greve geral de 1857 na Bahia'”, relembra.
Almir também
relembrou do poeta, escritor, artista plástico e professor universitário Abdias
Nascimento, idealizador do Memorial Zumbi e do MNU (Movimento Negro Unificado).
“Abadias, assim como o educador e antropólogo Darcy Ribeiro, acreditava que a
pesquisa de campo precisa estar intrinsecamente ligada à prática política
diária de transformação da realidade e superação dos impasses na sociedade e de
luta de emancipação do povo brasileiro”, pontua.
Desafios continuam
Almir observa que,
apesar dos avanços no campo popular e democrático, sendo o mais recente a
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que definiu que abordagem policial e
revista pessoal motivadas por raça, cor da pele, sexo, orientação sexual ou
aparência física são ilegais, “há ainda muitos desafios pela frente para
alcançarmos, de fato, a igualdade de oportunidades de raça, gênero e orientação
sexual”.
“O Brasil
historicamente tem uma divisão quase de castas delimitada claramente pela
diferença racial entre brancos (Casa Grande) e negros (Senzala). E sem superar
esta lógica e o racismo estrutural impostos pelas classes dominantes, não
poderemos alcançar a soberania nacional, que passa pela afirmação da identidade
cultural da população negra, a emancipação popular, uma sociedade justa e uma nação
avançada”, conclui.
Fonte: Contraf-CUT